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  • Foto do escritorVinicius Monteiro

O Abandono da Fé - "Persépolis" Análise Literária

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"Persépolis" é uma graphic novel autobiográfica de Marjane Satrapi que oferece um olhar íntimo e comovente sobre o Irã durante a Revolução Islâmica e a guerra com o Iraque. A história, contada através dos olhos de uma jovem iraniana, explora temas complexos como identidade, religião, política e a busca pela liberdade.

 

Marjane Satrapi em um momento de sua história vive uma crise existencial em relação à sua fé islâmica. O abandono da fé de Satrapi é um dos temas que mais chamou a minha atenção durante a leitura dessa graphic novel.

 

É importante ressaltar que o abandono da fé da autora não representa um ataque à religião em si, mas sim uma crítica à forma como a religião é usada para manipular e controlar as pessoas. É importante ressaltar também que a experiência de Satrapi é única e não pode ser generalizada. Cada indivíduo que passa por um processo de desmistificação religiosa vive essa experiência de forma particular, com suas próprias dores e conquistas.

 

Antes de debruçar sobre essa certa "rejeição" da fé de Marjane, eu preciso mostrar a vocês um pouco da formação religiosa da autora durante a sua vida:

 

Infância: Marjane é criada em um ambiente religioso e cresce acreditando nos ensinamentos do Islã. Ela frequenta a escola religiosa e participa ativamente das atividades da comunidade muçulmana.

 

Adolescência: Com o início da Revolução Iraniana, Marjane começa a questionar sua fé e a perceber as contradições entre os ensinamentos religiosos e a realidade que a cerca. A violência e a opressão que testemunha a fazem duvidar da bondade de Deus e da justiça do sistema religioso.

 

Juventude: Marjane decide deixar o Irã para estudar na Áustria, onde se afasta ainda mais da religião. Ela se sente deslocada tanto em sua nova cultura quanto em relação à sua origem religiosa.

 

A família tem uma forte influência religiosa na vida de Satrapi. Os valores e crenças transmitidos pelos pais moldam sua visão de mundo e sua relação com a religião.

 

Sra. Satrapi: Apresentada como uma mulher forte e inteligente, a mãe de Marjane é descrita como uma devota xiita. Ela transmite à filha os valores do Islã, ensinando-lhe a rezar, jejuar no Ramadã e a importância da modéstia. A mãe de Marjane representa a tradição religiosa familiar e serve como um modelo de fé.

 

Sr. Satrapi, Ebi ou Eby: O pai de Marjane, embora menos religioso que a mãe, possui uma visão mais liberal e crítica em relação à religião. Ele incentiva a filha a questionar e a pensar por si mesma, o que gera um conflito entre as crenças de Marjane e as expectativas de sua família.

 

A experiência da Revolução Iraniana e a busca por sua própria identidade levam Marjane Satrapi a questionar sua fé e a se afastar da religião de sua infância. Essa crise é desencadeada por diversos fatores, incluindo:

 

Hipocrisia religiosa: Os líderes religiosos iranianos pregam a modéstia e a castidade, mas se envolvem em escândalos sexuais e corrupção. Essa contradição entre discurso e prática é denunciada por Satrapi, que mostra como a religião é utilizada como instrumento de poder e controle.

 

A obrigatoriedade do véu islâmico, por exemplo, é usado como uma forma de censura à arte e à cultura. Satrapi mostra como a religião é usada para justificar a repressão às liberdades individuais e a perseguição de minorias. A autora também questiona a legitimidade de uma guerra que causa tanto sofrimento e destruição, guerra essa justificada em nome da religião.

 

Sofrimento e injustiça: Satrapi e seus amigos vivenciam perdas, medo e incertezas. As mudanças sociais e políticas impõem novas regras e restrições, afetando profundamente suas vidas cotidianas. A guerra e a revolução trazem consigo uma série de consequências devastadoras para a população iraniana. A fome, a violência e a instabilidade política marcam profundamente a sociedade. A autora, assim como muitos jovens iranianos, precisa lidar com a perda da liberdade individual e com a imposição de uma identidade religiosa que não condiz com seus valores.

 

Conflitos internos: A autora, ao crescer em um país que passa por profundas mudanças, se vê dividida entre sua cultura e seus valores ocidentais, adquiridos através dos livros e filmes que consome. Essa dualidade a leva a questionar sua própria identidade e a buscar um lugar onde se encaixar. A imposição do véu e de regras religiosas cada vez mais rígidas confrontam a fé de Satrapi, que busca conciliar sua crença com a liberdade individual. Ela se questiona sobre o papel da religião em sua vida e sobre a legitimidade das interpretações religiosas que lhe são impostas.

 

Marjane Satrapi passa por uma jornada de autodescoberta e questionamento, afastando-se gradualmente da religião institucionalizada. A protagonista continua buscando respostas e significado para sua vida, mesmo sem a fé religiosa. Ela encontra conforto na arte, na literatura e na amizade, e desenvolve uma forte consciência social e política. A decisão da autora gerou consequências, sendo elas boas ou ruins:

 

Conflitos familiares: A decisão de Satrapi de se afastar da religião causa um grande conflito com sua família, que é profundamente religiosa. Essa ruptura gera um distanciamento emocional e um sentimento de culpa na protagonista.

 

Isolamento social: Em uma sociedade onde a religião desempenha um papel central na vida das pessoas, Satrapi se sente cada vez mais isolada e incompreendida. Ela se afasta de seus amigos e familiares e busca refúgio em seus próprios pensamentos e sentimentos.

 

Crescimento pessoal: o abandono da fé também representa um momento de grande crescimento pessoal para a autora. Ao questionar suas crenças, ela se torna mais autônoma e independente, aprendendo a pensar por si mesma e a construir sua própria identidade.

 

Descoberta da liberdade: A liberdade de pensamento e expressão que Satrapi encontra ao se afastar da religião é fundamental para sua formação como indivíduo. Ela se sente mais livre para explorar novas ideias e perspectivas, e para viver a vida de acordo com seus próprios valores.

 

Apesar de se afastar da religião, a autora nunca esquece os valores que lhe foram transmitidos pela família. A fé de sua mãe e a mente crítica de seu pai a acompanham ao longo de sua vida, moldando sua personalidade e sua visão de mundo.

 

O abandono da fé mostrada em "Persépolis" é um processo gradual e doloroso, marcado por dúvidas, angústia e a busca por uma identidade autêntica. A história de Marjane Satrapi serve como um lembrete de que a fé é uma questão pessoal e complexa, e que cada indivíduo tem o direito de questionar e buscar suas próprias respostas.

 

"Persépolis" é uma obra que nos convida a refletir sobre a complexidade da identidade religiosa e sobre o impacto da família na formação individual. Através da história de Satrapi, a autora nos mostra como a fé pode ser uma fonte de conforto e orientação, mas também um motivo de conflito e sofrimento.


Quais foram as suas percepções sobre a graphic novel "Persépolis"? Comentem o que vocês acharam, sobre essa matéria especial e suas próprias percepções sobre essa história. Até a próxima!



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